Quando nasce, o homem é sem discernimento. O homem, ao nascer, conhece sua existência pela existência dos outros.

Logo após o nascimento, ainda não há distinção entre si e os outros. Ele apenas sente o que está diante dele.

Ao nascer, ele é puro e inocente. Ele solta seu primeiro grito e sente as sensações ao seu redor. Ignorância. Ele não entende as palavras. Ele não vê.

Chorando e agitando os braços e as pernas, ele sente as reações das pessoas ao seu redor. Nesse momento, ele percebe que não pode viver sozinho.

Esse é o ponto de partida do homem.

O um se torna dois.

Desde o nascimento, sua existência é condicionada pela existência dos outros. Porque, sem sua existência, ele não poderia perceber a existência dos outros.

A existência de si mesmo é a premissa de todas as coisas, fenômenos e do mundo, então ele começa por se definir.

Antes disso, ele nomeia as coisas externas, materiais, fenômenos, existências ou o mundo como objetos.

Tudo, incluindo a si mesmo, é único e absoluto.

Em uma existência única e absoluta, não há discernimento. Sem discernimento, não há distinção.

Para distinguir, a necessidade de reconhecimento faz surgir o discernimento. Quando o discernimento aparece, o absoluto do objeto se desfaz e se torna relativo.

No momento em que o discernimento aparece, o reconhecimento do homem se torna relativo e imperfeito.

O eu é o sujeito de todas as ações. O eu é o sujeito do reconhecimento. O eu é a premissa da existência e do reconhecimento. O eu é um objeto de reconhecimento indireto. O eu é uma existência conceitual e espiritual. O problema aqui é que o “eu” é um “objeto de reconhecimento indireto”.

O fato de que o objeto é um objeto de reconhecimento direto e que o eu é um objeto de reconhecimento indireto significa que o eu e o objeto estão em uma relação de espelho. Em outras palavras, ele se conhece refletindo-se nos objetos externos. Para se conhecer, ele deve se refletir em algo externo. Ele se conhece por sua interação com o exterior. O reconhecimento de si depende do mundo exterior. Essa relação estabelece uma relação de ação e reação no reconhecimento.

Os objetos além de si são objetos de reconhecimento direto. Mesmo que falemos de objetos de reconhecimento direto, só podemos reconhecer sua forma exterior. Apenas a superfície.

O eu é uma existência subjetiva e, ao mesmo tempo, um objeto de reconhecimento indireto. O fato de que o eu é tanto sujeito quanto objeto de reconhecimento indireto significa que ele é sujeito de reconhecimento e, ao mesmo tempo, objeto de reconhecimento indireto, o que cria uma relação de ação e reação ao reconhecer a relação com o objeto. Ao objetivar o eu, a relação entre si e os outros se transforma em uma relação de outros para outros, o que caracteriza a relação fundamental com o objeto. A ação e a reação são problemas de reconhecimento e constituem a base da reflexão sobre ações e relações. A existência é única e absoluta antes de qualquer distinção entre si e os outros. Em outras palavras, ela é uma. O um se torna dois pelo discernimento, o absoluto se quebra e se torna relativo.

A existência antes do discernimento é chamada de Deus. Deus é uma existência única e absoluta. Deus não tem discernimento entre o bem e o mal. O discernimento está do lado do eu. Deus é uma existência transcendente além do eu e do bem e do mal. O bem e o mal estão do lado do eu. O homem é julgado por seu próprio bem e mal. Todos os pecados estão do lado do eu. É o eu que expia os pecados e é julgado pelo bem e pelo mal. É por isso que ele reconhece seus pecados, se arrepende e pede perdão a Deus.

O homem despreza Deus quando está feliz. Ele amaldiçoa Deus quando está infeliz.

No entanto, Deus é Deus. É o homem que precisa de Deus, Deus não precisa do homem.